UMA IGREJA QUE PASTOREIA SEUS PASTORES


por João Marcos Bezerra - jmarcoscb@gmail.com
Texto base: 1 Tessalonicenses 5.12-13
 

A carta de 1 Tessalonicenses foi escrita pelo apóstolo Paulo para um grupo de cristãos recém convertidos composta por judeus, gregos piedosos e mulheres nobres. Era uma igreja que ele havia plantado durante sua segunda viagem missionária. Em Atos 17.1-9 é possível perceber que estes irmãos foram perseguidos por causa da fé desde o início. Por isso, Paulo escreve para encorajá-los (1 Tessalonicenses 1-3), corrigir alguns entendimentos equivocados sobre a volta de Cristo (4.13-18) e instruí-los sobre a vida cristã (4-5).

Nos versículos 12 e 13 do capítulo 5, Paulo faz uma exortação importante sobre a relação entre a igreja e seus líderes espirituais. Ele destaca que os pastores devem ser reconhecidos, honrados e tratados com amor por causa do trabalho que realizam. Estes versos fazem parte de uma seção com vários conselhos àquela igreja. Além de respeitar e amar os líderes espirituais, a igreja deveria viver em paz, estar sempre alegre, orar sempre, ser agradecida, não atrapalhar o Espírito Santo, examinar tudo e reter o que é bom (vs.12-22).

Pela passagem do Dia do Pastor, somos convidados a refletir sobre a nossa forma de pastorear nossos pastores, com base em 1 Tessalonicenses 5.12-13 e outros textos.

O pastor, à luz das Escrituras, é um dom ministerial dado por Deus à igreja, isto é, para servir à igreja (Efésios 4.11). Sua missão é apascentar o rebanho, ensinar a sã doutrina, liderar com humildade e servir com dedicação, sem ganância e dominação, sendo exemplo dos fiéis (1 Pedro 5.2-3). No entanto, apesar de sua responsabilidade de cuidar do povo de Deus, o pastor também precisa ser honrado, amado e cuidado pela igreja.

O primeiro passo para que uma igreja cuide bem de seus pastores é conhecer o tipo de liderança que Deus deseja. Em 1 Tessalonicenses 5.12, Paulo descreve os pastores como aqueles que: trabalham arduamente entre o povo, lideram no Senhor, guiam e ensinam os irmãos e irmãs. Também é importante lembrar que em 1 Timóteo 3.1-7, Paulo apresenta as qualidades essenciais de um pastor. Ser: irrepreensível; moderado, prudente e simples, hospitaleiro, capaz de ensinar, pacífico e calmo, bom marido e pai, não beberrão e nem avarento e ter boa reputação dentro e fora da igreja.

Paulo não recomenda honra, amor e cuidado a qualquer líder espiritual, mas a um pastor com estas qualidades, pois um líder com este perfil é digno de confiança e deve ser valorizado pela comunidade onde serve. É importante reforçar isto porque, infelizmente, muitos têm se colocado nas igrejas como ungidos intocáveis, a quem ninguém pode repreender. Com isso, acreditam que estão livres para fazer o que querem. Em nenhum momento na Bíblia os presbíteros são colocados como alguém de superior importância ou posição de poder na igreja, mas como servos humildes de Deus dispostos a guiar o povo do Senhor.

O segundo passo para que uma igreja cuide dos seus pastores é honrar seus líderes.

Irmãos, honrem seus líderes na obra do Senhor.
(1 Tessalonicenses 5.12a)

Mas o que significa honrar?

O verbo grego usado neste verso para reconhecer, também traduzido em algumas versões como honrar (eidénai) significa mais do que reconhecer, saber quem são os líderes; significa valorizar, perceber com clareza e dar atenção respeitosa àqueles que lideram espiritualmente. Reconhecer, portanto, é ver com os olhos certos e não tratar com indiferença aqueles que são instrumentos de Deus para edificação do corpo de Cristo.

E os tenham em grande estima e amor
(1 Tessalonicenses 5.13a)

Ter em alta estima é considerar valioso, e o ‘fazer isso com amor’ está relacionado a uma atitude afetiva, cuidadosa e voluntária. Esse tipo de consideração ultrapassa palavras, “tapinhas nas costas” ou “chuvas de ideias”, manifesta-se em: encorajamento, gratidão, generosidade, oração e prontidão para servir na igreja junto com os líderes.

De forma prática, honrar os pastores é:
· Reconhecer sua autoridade espiritual e sua dedicação aos irmãos;
· Valorizar publicamente e privadamente seu ministério;
· Proteger sua reputação;
· Demonstrar amor por meio de cuidado, apoio emocional e suprimento material. Suprir necessidades práticas e emocionais;
· Cumprir compromissos e promessas (“honrar a palavra”);
· Não murmurar, mas orar e apoiar;
· Não comparar, mas encorajar e sustentar o ministério.

Além disso, os pastores são humanos. Cada um têm esposa, filhos, cansaço, lutas internas e necessidades emocionais. As famílias pastorais muitas vezes são esquecidas, enfrentam solidão, cobrança excessiva e pouco apoio. As esposas são tratadas e cobradas como pastoras e muitas nem este chamado possuem. Os filhos sofrem cobranças de comportamento além do que cobram de outras crianças e adolescentes cristãos. Por isso, o terceiro passo para uma igreja cuidar dos seus pastores é cuidar da família de cada um deles.

Em 2 Coríntios 7.6-7 o apóstolo falou do consolo que recebeu através de Tito. Ele foi animado não somente com as notícias, mas com a informação de que os irmãos tinham saudades dele, a tristeza que sentiam pela situação de Paulo e que estavam prontos para defende-lo. Isto o deixou feliz e mostra para nós atualmente como os líderes também precisam de apoio emocional.

De forma prática, cuidar do pastor é também cuidar de sua esposa e filhos:
· Demonstrando carinho e acolhimento;
· Respeitando o tempo e a privacidade da família;
· Garantindo condições justas para descanso e lazer;
· Estimulando um ambiente onde a família pastoral se sinta parte da comunidade e não itens de utilidade dela.
Resumindo tudo, uma igreja que pastoreia seus pastores reflete o coração de Cristo em algumas atitudes práticas, como:
· Orar frequentemente pelos pastores e a família de cada um;
· Oferecer palavras de encorajamento, especialmente nos momentos difíceis;
· Reconhecer e celebrar conquistas ministeriais com gratidão;
· Estar disposto a servir na igreja em suas diferentes necessidades, auxiliando os líderes e evitando ser apenas um expectador de cultos e reuniões;
· Prover descanso e momentos de renovação espiritual;
· Cuidar do sustento, com dignidade e generosidade;
· Proteger o pastor de críticas injustas e difamações;
· Incluir a família pastoral em atividades além da igreja, com respeito e equilíbrio.

A minha oração é que sejamos uma igreja que cuida dos seus líderes. Uma comunidade que não nos trate como um utensílio que pode ser descartado quando não servir mais, mas que ame, honre e cuide dos seus pastores, para que o nosso ministério seja uma alegria e não um peso (Hebreus 13.17), em nome de Jesus. Amém!

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