SOCORRO! TENHO UM ADOLESCENTE EM CASA


Por João Marcos Bezerra

Você tem um(a) filho(a) adolescente e está preocupado? Como lidar com esta fase que dizem que é tão complicada? Vamos tentar aprender juntos algumas lições importantes sobre paternidade e adolescência, começando pelo texto bíblico abaixo?

1 Filhos, o dever cristão de vocês é obedecer ao seu pai e à sua mãe, pois isso é certo. (NTLH) 2 "Honre seu pai e sua mãe", este é o primeiro mandamento com promessa: 3 "para que tudo corra bem e tenha longa vida sobre a terra". (NVI)
4 Pais, não tratem seus filhos de modo a irritá-los [não provoquem a ira dos seus filhos]; antes, eduquem-nos (NVT) segundo a instrução e o conselho [que vêm] do Senhor. (NVI) – Efésios 6.1-4

O texto de Efésios 6.1-4 normalmente é lembrado para reforçar a obediência dos filhos aos pais. Porém, estes versículos fazem parte de uma série de orientações de relacionamento que vão do capítulo 5, verso 21, ao 6, verso 9, que apresenta obrigações para todos. Neste caso, os filhos devem obedecer aos pais, e estes não devem irritar seus filhos.
É dever cristão obedecer, respeitar e honrar os pais, pois isto é justo, correto e um princípio de Deus[1] (Ex 20.12). Porém, existe uma contrapartida (nossa) dos pais com os filhos: não devemos trata-los de forma a provocar a ira deles, a irritá-los. O que isto quer dizer?
Em Colossenses 3.20,21 existe uma referência de irritar os filhos com desanimá-los, ou seja, seria trata-los ao ponto de desencorajar e desestimular o desenvolvimento deles em todas as áreas e prejudicar o relacionamento com Deus. Não é difícil encontrar exemplos: quando comparamos a nossa geração com a geração deles e rejeitamos completamente as mudanças e transformações que influenciam nossos filhos; e, quando controlamos demais, demonstrando falta de confiança neles e na educação que estamos lhes dando[2]. A orientação final de Paulo no texto é que a educação deve ser na instrução de Deus. Como isto é feito?
Em Deuteronômio 6.7 está escrito que os pais devem ensinar a Palavra do Senhor e o amor a Deus aos filhos de forma direta por meio da leitura e explicação dos textos bíblicos e da vivência diária em casa. Desta forma, vamos orientar o caminho em que eles devem seguir e como andar, enquanto caminhamos com eles. Além disso, mostraremos que a satisfação e a esperança deles devem está no Pai e na vida eterna. Isto nos fará aprender a superar as diferenças e problemas, criar pontes e lidar com os altos e baixos de cada faixa etária.
Tendo feito esta introdução, como queremos falar de adolescentes e relacionamento com eles, é importante entrarmos numa aplicação prática de como lidar com esta fase tida como “complicada”.
A adolescência é a fase da vida que está entre doze e dezoito anos de idade[3]. Também é “o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizado pelos impulsos do desenvolvimento físico, mental, emocional, sexual e social”, que começa no início da puberdade e conclui no crescimento e consolidação da personalidade[4].
Diferente das crianças, que vivem no presente e quase não possuem noção de tempo, os adolescentes começam a lidar com o futuro, que, para muitos deles, apresenta-se como algo incerto e assustador[5]. Na maioria das vezes, nós, pais, é que criamos um ambiente de tensão ao exigir que tomem decisões importantes num espaço de seis anos.
Pensemos na seguinte situação: passamos onze anos da nossa vida brincando, comendo, dormindo, estudando e sem preocupação com a vida adulta (contas a pagar, política e economia do país, emprego, sustento da casa, cuidar de si e dos outros etc.). Quando completamos 12 anos de idade, percebemos que não somos mais crianças e que em poucos anos teremos que ter as mesmas preocupações que os nossos pais têm. Porém, antes disto precisamos, em quatro ou cinco anos, escolher qual a carreira profissional a seguir, mas não conhecemos nada sobre isto, a não ser o que vemos nos desenhos e programas da TV e YouTube. Qual é o papel correto dos pais neste momento? Cobrar ou conversar e orientar?
Ao cobrar, aumentamos a ansiedade dos nossos filhos e os levamos a tomarem decisões equivocadas que atrapalharão mais do que ajudarão. Precisamos orienta-los não somente sobre vocação, mas também sobre outros assuntos, como: relacionamentos, experiências de vida, política, economia, culinária, organização, planejamento etc..
Outra situação que vivemos com os adolescentes é o desafio deles à autoridade. “Eu vou usar o que eu quiser”, “Eu não quero ir à igreja!”, “Você não pode me obrigar” e “Não vou fazer do seu jeito” são exemplos do que ouvimos nesta fase. Temos menos controle sobre eles neste momento de crescimento e formação da identidade pessoal. “Durante a infância, os pais impõem limites rígidos ao exercício do livre-arbítrio dos filhos… Mas, na adolescência, as crianças começam a exigir cada vez mais participação nas decisões”[6].
É importante que nós entendamos que neste momento eles estão:
1.     Formando a própria identidade. Apesar de imitarem alguém no início da adolescência, com o amadurecimento eles mostram diferenças na personalidade deles;
2.     Em busca de uma fé pessoal. Enquanto eram pequenos admiravam a fé dos pais ou da “tia” da igreja e viviam em torno disto, mas neste período percebem as imperfeições e “hipocrisias” das pessoas que tinham como referência. Além disso, eles começam a rejeitar o que é impessoal ou institucional;
3.     Tentando trilhar o próprio caminho e fazer as próprias escolhas. Por isso e por estarem formando a própria identidade e perceberem que nós não somos perfeitos, os desafios à autoridade dos pais são comuns. A rebeldia é causada porque agora eles pensam sozinhos e, muitas vezes, diferente de nós.
Isso tudo deve nos levar a uma mudança de postura em relação aos nossos filhos. Eles não são mais crianças. Precisamos adequar a nossa forma de exercer a autoridade sobre eles. Enquanto estão na infância, uma palavra e uma postura mais firme nossa é suficiente para exigir obediência. Na adolescência não é assim. É necessário “aprender a exercitar autoridade de forma correta, sábia [e] cristã”[7]. E como isto é possível?
Primeiro, a autoridade não deve perder o controle quando desafiado. “A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira.” (Pv 15.1). Manter o controle emocional no momento do confronto colabora para nós, pais, conversar e aconselhar os nossos filhos com calma, paciência, equilíbrio e oração[8].
O segundo ponto que possibilita exercer a autoridade com sabedoria, além de manter o controle, é ser educado. Para isto, é importante lembrar que Paulo nos orienta a educar os nossos filhos na instrução e conselho do Senhor. E esta instrução e conselho divino devem estar no nosso coração. A história de Jesus no Templo de Jerusalém, a reação dos pais e a obediência do menino são exemplos bíblicos no comportamento adequado no momento do “confronto” (ler Lucas 2.41-51).
Além de manter o controle e ser educado, é necessário que a autoridade não seja coercitiva, intimidadora, pois intimidar o adolescente a obedecer por obrigação demonstra falta de controle e de educação. Neste caso, podemos utilizar o exemplo da relação de Deus conosco. Ele nos instrui por meio da Sua Palavra e mostra qual é a melhor maneira de agir nas diferentes situações e quais as consequências do erro. Todavia, não nos obriga a seguir a ordem Dele. Isto é uma demonstração de amor.
Entretanto, devemos ter em mente que somos falhos e que manter o controle, ser educado e não obrigar são condutas relativamente difíceis[9]. Quando começamos a conversar mais com nossos filhos e criamos um relacionamento baseado no diálogo constante, a perda do controle, a falta de educação e a intimidação passam a ser raridade, apenas a última opção nossa com eles.

Por isso, a melhor forma de lidar com a adolescência está em:

1.     Instruir e aconselhar, desde criança, os nossos filhos na Palavra de Deus;
2.     Orientar para que tomem decisões sábias e não ficar cobrando;
3.     Entender que nossas gerações são diferentes e a comparação não ajuda;
4.     Adequar a nossa forma de exercer a autoridade de pais de forma a manter o controle, ser educado e não obrigar a fazer as coisas;
5.     Criar um relacionamento de amor e diálogo; e,
6.     Principalmente, lembrar-nos de orar e entregar os nossos filhos na mão do Senhor, pois Ele é o único que pode cuidar e guiar de forma sábia qualquer pessoa.
A minha oração é que amemos nossos adolescentes e tenhamos uma postura baseada nas Escrituras Sagradas em tudo que fazemos para o bem deles. Amém!



[1] Comentário Bíblico Moody sobre Efésios. p.36.
[2] BARCLAY, William. Comentários sobre Efésios. Tradução: Carlos Biagini. p.131.
[3] BRASIL. Lei 8.069, de 13 de Julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília: Ministério da Justiça, 1990, artigo 2º.
[4] EISENSTEIN, Evelyn. Adolescência: definições, conceitos e critérios. Disponível no site: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=167. Visualizado em 6/5/19.
[5] PETERSON, Eugene. Crescendo com o seu filho adolescente: conselhos para pais de adolescentes. Tradução de Cláudia Ziller Faria. Brasília/DF: Palavra, 2007, p.81.
[6] Idem, pags. 21, 22.
[7] Ibidem. P. 39.
[8] Ibidem. p.43.
[9] Ibidem. P.44.

Comentários

Regina Célia disse…
Excelente texto. Obrigada por me fazer lembrar de algumas informações esquecidas no dia a dia.

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