PREGAÇÃO EXPOSITIVA


Por João Marcos Bezerra

A pregação é um “discurso religioso geralmente pregado em púlpito; admoestação com o objetivo de moralizar”. Quando ela é expositiva significa “que expõe, descreve, apresenta, dá a conhecer” (Aurélio Séc. XXI).
Um conceito bíblico para pregação pode ser “o processo em que Deus fala ao coração do homem, por meio de um mensageiro pautado na autoridade e no poder das Escrituras Sagradas, iluminado pelo Espírito Santo, com o propósito de anunciar a Cristo e visando à transformação de vidas” (Material de Estudo SETEB).
No momento em que se trata a pregação expositiva da Bíblia, determina-se que haverá um discurso onde a Escritura será apresentada ao público alvo, expondo o seu conteúdo. Como a pessoa de Jesus Cristo está presente em todo o conteúdo bíblico, de Gênesis a Apocalipse, expor a Bíblia deve ser também uma exposição de Cristo. Apesar de que muitos desviam o foco da Palavra para outros assuntos relevantes, mas que, muitas vezes, são apresentados desligados do Senhor e perdem a sua relevância.
Por isso, é interessante fundamentar o conceito bíblico de pregação nos quatro princípios para que não haja esse desvio de foco, esses são:
1.    Tendo como base a autoridade da inspiração da Bíblia, a pregação tem autoridade também. Isso porque “o poder transformador da Palavra depende do reconhecimento da autoridade divina” (Shedd).
2.    Apoiado em Hebreus 4.12, a Palavra de Deus tem poder, consequentemente a pregação tem poder. Para isso, é necessário que o arauto seja ungido pelo Senhor para que o Espírito Santo atue.
3.    É na unção que o Espírito Santo age iluminando, instruindo, guiando e capacitando o pregador, que neste momento assume a postura de instrumento divino.
4.    Quando se é instrumento, cumpre o propósito da pregação que é “declarar a vontade de Deus para Seu povo, Sua igreja […] motivar em questões como fé, obediência e crescimento espiritual” (Liefeld).
A partir da conceituação da pregação, pode-se estruturar a exposição da Palavra no tripé Bíblia – Pregador – Deus, onde do texto se extrai a mensagem e os princípios que pautam a vida do homem, através da responsabilidade que este tem em testemunhar há uma demonstração prática do efeito transformador da Bíblia. Por isso, o pregador tem o dever de ser um propagador do evangelho através da própria vida, do seu ser.
Entretanto, mesmo com o texto e os princípios bíblicos e o testemunho do mensageiro, se não houver a participação e ação integral do Espírito Santo, o ensino não terá efeito sobre os ouvintes e nem na vida do pregador. Isso porque é considerado que o mensageiro é apenas o transmissor da mensagem divina e não o elaborador dela. Daí a origem da palavra arauto (keryx, em hebraico): “oficial que fazia as proclamações solenes; emissário, mensageiro, pregoeiro, núncio” (Aurélio Séc. XXI).
O papel do pregador contemporâneo nada mais é do que imitar o Senhor Jesus na transmissão do arrependimento, do Evangelho do Reino e de Deus e da Verdade. Isto foi propagado pelos discípulos do Senhor – como exemplo os tão ousados pregadores do NT Pedro, Estevão e Paulo, pelos seguidores destes, os Patrísticos (Justino Mártir, Tertuliano etc.), pelos discípulos destes, chegando até os reformadores (John Wycliffe, John Huss, Erasmo, Lutero e Calvino), os puritanos e os atuais mensageiros.
Em relação a mensagem, ela é estruturada por um processo que inicia com a escolha do texto, seguido pela Exegese Prática, que se divide em três partes (familiarização, análise e síntese do texto), e Hermenêutica Prática que se destrincha em contexto, literalidade, historicidade, cultura, gramática, prioridade, teologia e gênero literário do texto, ciência do processo de revelação, propósito inicial do autor, comparação com outros textos bíblicos e a cristocentricidade, alicerçados pela oração e orientação divina.
Após a interpretação do texto é que se deve iniciar o desenvolvimento e a estruturação do sermão, onde é necessária uma proposição central, introdução do texto, colocação de divisões principais – também conhecidos por alguns pregadores como verdades bíblicas, podendo até usar ilustrações, e, por fim, uma conclusão para fechamento e recapitulação. Toda esta estruturação pode ser usada para todos os tipos de sermões, seja tópico/temático, textual ou expositivo. Dentre estes, o que mais se enquadra no perfil de apresentação bíblica sobre a pessoa de Cristo é o sermão expositivo cristocêntrico.
Este tipo de mensagem é muitas vezes distorcido pela tentativa de “colocar Cristo literalmente em todos os textos bíblicos, eximir a ação das outras duas pessoas da divina trindade, forçar os textos para encontrar Cristo, desconsiderar a literalidade do texto, desprezar os princípios hermenêuticos e desvalorizar a ação veterotestamentária de Deus” (Material de Estudo do SETEB).
Mesmo que Jesus seja o ponto central das Escrituras Sagradas, ele não está literalmente em todos os textos e nem suprime o Espírito Santo e o Deus Criador. Por isso, é necessária a aplicação dos princípios interpretativos para uma correta e eficaz extração dos princípios divinos contidos no texto.
Diante disso, percebe-se a grande responsabilidade que o mensageiro tem sobre a sua própria vida e a mensagem que traz. É necessário que ele reconheça a sua identidade ministerial e seja fiel a ela: “Cuidai, pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue.” (At 20.28).
Ele precisa admitir como certo e algo essencial na sua vida a sua função de arauto, embaixador, despenseiro, intérprete, expositor, testemunha e servo. Como também aplicar em si uma disciplina pessoal muito forte, dedicando tempo para o Estudo da Palavra, tempo de oração e tempo com a família, como está escrito em I Tm 3.2-4:

É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, temperante, sóbrio, ordeiro, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, mas moderado, inimigo de contendas, não ganancioso; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito…

Além disso, ele precisa ter outras qualidades indispensáveis como: caráter ilibado, entusiasmo na transmissão da mensagem, sensibilidade à voz do Senhor e ao público alvo, humildade assim como Cristo foi (Fp 2.8), zelo e paixão pelo que faz e observação do mundo e das pessoas para contextualizar e atingir o seu público.

A Pregação Cristocêntrica é uma pregação centralizada na obra de Deus para o resgate do homem através do sacrifício expiatório de Jesus Cristo na cruz do Calvário. Reconhecendo que Cristo está no mais alto degrau da doutrina bíblica, entendendo que a redenção do homem veio por Ele, e somente por Ele.

A relevância deste tipo de pregação precisa ser restaurado no meio da igreja, para que as pessoas realmente reconheçam o que Cristo fez, faz e fará por elas, mas também para que entenda como elas devem ser diante do Senhor para ser um autêntico seguidor de Jesus.
Viu-se que o pregador tem uma responsabilidade tremenda na pregação, mas se deve reconhecer a autoridade divina, pois é Deus quem faz a obra e usa o mensageiro como quer. Além disso, outros ingredientes importantes na aplicação neste processo é também o reconhecimento da supremacia de Cristo, a submissão à ação do Espírito Santo e a aceitação da prioridade do texto bíblico na mensagem. Para isso, também se considera as vantagens, os efeitos e os alvos da exposição.
O alvo, ponto a que a mensagem deve ser dirigida, deve se nortear pela pergunta: “para que/quem será este sermão?”. Daí se destaca quatro alvos importantes: evangelização, declaração da vontade de Deus ao Seu povo, apresentação correta da doutrina bíblica e a adoração e exaltação a Deus e o seu nome. Com isso, o sermão tende a ser mais preciso.
Independentemente do alvo existem três perspectivas a Bíblia, o pregador e o ouvinte, ou seja, isto significa que Deus se faz conhecer por meio da sua Palavra, usando o homem como mensageiro para transformar as pessoas.
Quando se vê tantos conceitos, princípios, aplicações e alvos da mensagem expositiva cristocêntrica, há uma tendência em achar dificuldades no processo. Todavia, as maiores dificuldades estão:
1.      Na profundidade do estudo do texto, pois é necessário compreender e extrair tudo o que o texto está querendo dizer;
2.      Adaptar o vocabulário ao tipo de platéia, pois o uso de termos técnicos para um determinado público pode confundir mais do que esclarecer; e,
3.      Contextualizar de forma coerente a mensagem do texto, para trazer clareza ao sermão e ampliar o entendimento dos ouvintes.
Entretanto, é importante observar a relevância deste sermão nos seus atributos que fazem diferença na vida do pregador e no seu público.
A pregação com compromisso torna as pessoas mais comprometidas com Deus e Sua Palavra. A pregação com fidelidade é “capaz de encorajar outros na sã doutrina e de refutar os se opõem a ela” (Tt 1.9). A pregação com sabedoria expõe a sabedoria divina. A pregação com poder impacta as pessoas. A pregação que transforma, que alcança o perdido, que atinge o salvo e que agrada a Deus deve ser o alvo almejado na exposição.
Então, com o conhecimento sobre os conceitos, princípios, aplicações e dificuldades do processo expositivo se percebe a extrema necessidade de dedicação por parte do mensageiro. Para que a mensagem redentora de Jesus alcance e transforme as pessoas, trazendo a liberdade sobre o pecado e, consequentemente, sejam salvas da ira de Deus.
Por fim, o Sermão Expositivo Cristocêntrico é importante na construção do caráter do cristão, pois apresenta de forma precisa e direta a mensagem de Deus através da Bíblia, a Sua Palavra.

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