INTRODUÇÃO À TEOLOGIA SISTEMÁTICA

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Por João Marcos Bezerra
(Fonte das informações e citações: material de estudos da disciplina ‘Teologia Sistemática’ do SETEB)

Prolegômenos de acordo com o Dicionário Aurélio significa: “Exposição preliminar dos princípios gerais de uma ciência ou arte; Introdução geral de uma obra; ou, Prefácio longo”. No caso do estudo teológico, representa a metodologia, as fontes e as razões para se estudar teologia (“as coisas que são faladas em primeiro lugar”).
Num primeiro momento, como parte desta exposição preliminar, é importante entender a relação entre doutrina e teologia; onde esta é “uma ciência que estuda Deus e Sua relação com o universo criado” e aquela é “o ensino bíblico em torno de um tema específico” encontrado através de métodos lógicos e sistêmicos de interpretação da Bíblia. É importante também mencionar que só há uma interpretação verdadeira dos textos das Escrituras Sagradas que é dado através do Espírito Santo de Deus.
Apesar das diversas objeções ao estudo doutrinário-teológico, todo servo de Deus deve saber em quem crê, o que crê e por que crê, que é apresentado de uma forma geral pela Teologia e de maneira específica pela Doutrina. Isso é o que determina o caráter, o comportamento e o destino de cada um. Mas existe um mal entendido que distancia os crentes comuns do teólogo. Quando se reconhece que este é quem estuda teologia, excluem-se os demais dessa ciência.
No momento em que se pensa e procura respostas sobre a vida e a morte, o certo e o errado e Deus, de forma ampla, também se faz esta ciência. Isso se dá porque existem seis formas de fazer teologia: de boato, popular e leiga (teologias informais, sem investigação aprofundada do ensino, feito por qualquer pessoa) e ministerial, profissional e acadêmica (teologias investigativas e direcionadas a um fim, feito por estudiosos de fato). Esta ciência se classifica em sistemática, bíblica, histórica, filosófica, dogmática, apologética e exegética.
Por isso, deve se considerar que o estudo científico do Criador e sua relação com a criação é algo importante aos cristãos para se manterem firmes diante das diversas heresias apresentadas pela Epistemologia Moderna e Pós-Moderna.
A Teologia Sistemática apresenta as doutrinas bíblicas relacionadas à própria Bíblia, à Cristo, ao próprio Deus, ao Espírito Santo, à natureza do homem e do pecado – além da origem e dos efeitos deste, à natureza da igreja e dos anjos e demônios – além das obras destes, à salvação e aos fatos dos últimos dias. Isso traz uma grande contribuição ao conhecimento bíblico e à estabilidade da fé cristã, ainda mais quando se alia a uma excelente exegese das Escrituras.
Em relação à Epistemologia– ramo filosófico que se preocupa com a teoria do conhecimento, pode-se dizer que tem uma grande influência na crise teológico-doutrinária vivida pelas igrejas cristãs atualmente. Quando se considera a pós modernidade (período do conhecimento atual) há um resgate da fé só que com o cunho místico. Enquanto que a modernidade quebrava os preceitos da fé como base social e alavancava a razão como essência do conhecimento.
A Teoria do Conhecimento Pós Moderno aborda que a verdade é relativa (cada grupo étnico-social tem a sua) e subjetiva (depende da perspectiva de cada indivíduo). Além disso, estimula a crença “de que a verdade não pode ser conhecida com certeza” (ceticismo); “de que a verdade é encontrada na combinação da perspectiva de muitos” (perspectivismo); e, “de que a verdade é o resultado final do que é definido pelo que funciona para obter o melhor resultado” (pragmatismo).
Este ensino é contrário as Escrituras, pois a Bíblia é a Palavra e a Verdade de Deus. E também é contraditório em si mesmo, a partir do momento que apresenta o absoluto de que “a verdade é relativa”. Além do que, se a verdade depende da perspectiva de cada um (subjetivismo) e alguém diz: “a verdade é absoluta”, esta será uma afirmação correta dentro da mesma epistemologia.
Mesmo vivendo na Pós Modernidade, as igrejas tendem a oscilar entre três vertentes de influência. A primeira é a Epistemologia Moderna que argumenta que toda a verdade pode ser alcançada pelo homem por meio da razão e que a Bíblia deve ser estudada neste alicerce, buscando fatos e evidências que a comprovam cientificamente.
A segunda é a Pós Moderna, onde as emoções e os relacionamentos determinam a verdade, mesmo que ela não possa ser alcançada. As Escrituras passam a ser comprovadas por meio das experiências, que é experimentada de várias formas e pessoas diferentes e sob diversas perspectivas, trazendo interpretações diversas e contraditórias dentro do mesmo contexto.
Já a terceira é a Visão Cristã Bíblica da verdade, onde esta é uma realidade objetiva e fundamentada em Deus e na Sua revelação ao homem por meio da Palavra e da própria criação, sendo que a Bíblia é a autoridade final e absoluta sobre as demais revelações. Todos aqueles que se dizem cristãos devem aplicar esta terceira vertente como base da vida e do ensino, execrando as demais como fonte do conhecimento.
Para se alcançar uma formulação doutrinária segura é necessário um processo teológico enquadrado em três estágios: a Exegese, a Declaração Teológica e a Exposição Homilética. A Exegese “se refere ao estudo interpretativo das Escrituras levando em consideração o contexto histórico, gramatical-literário e a teologia do escritor bíblico”, isto é, comparar a Bíblia com a própria Bíblia extraindo a única interpretação correta do texto.
A Declaração Teológica é a formulação do que foi descoberto através da exegese, ou seja, a descrição do princípio bíblico passado pelo autor através do contexto ao público original e ao atual também. E a Exposição Homilética é a aplicação e o ensino da mensagem de Deus resultada na Declaração Teológica.
Dentro desse processo teológico há diversas fontes da teologia a ser consideradas: a tradição, a razão, a experiência, a revelação geral e especial, os sentimentos e as Escrituras. Ressalta-se que esta última é a fonte de toda a Verdade revelada pelo Criador ao homem e a autoridade final e absoluta sobre as outras fontes.
Por meio destas diversas fontes várias plataformas teológicas são construídas e difundidas, usando alguns elementos como base fundamental na formulação do estudo (frente); outros com influência, mas sem muita força no palanque teológico-doutrinário (meio); e ainda outros que tem papel nesta formulação, mas não exercem tanta influência quanto os demais (costas).
Por exemplo, a Plataforma Católica e Ortodoxa possuem a mesma frente (tradição e as Escrituras), mas difere nos outros conteúdo. Enquanto isso a Plataforma Protestante traz como única frente às Escrituras, assemelhando-se à Fundamentalista, mas diferindo no conteúdo secundário e nas costas. Outro Palanque influente é o Carismático que coloca as Escrituras com o mesmo peso de influência que a revelação especial, experiências e sentimentos. As outras plataformas, liberal e pós moderna, são parecidas em apenas um ponto: não consideram as Escrituras como fonte de influência seja primária, secundária ou terciária.
Isso tudo leva a sugestão de uma nova plataforma teológica, que, assim como a Protestante, coloca as Escrituras como fonte doutrinária primária, objetiva e absoluta e como base de aceitação ou refutação das outras fontes do conhecimento divino. Enquanto que as demais (tradição, razão, revelação geral e especial, experiência e sentimentos) ocupam uma posição secundária e, no caso dos milagres, experiências pessoais e os sentimentos, uma posição de menor influência, mas tendo a sua participação devida e necessária na vida do servo de Deus.
Todo esse conhecimento acerca das vertentes de influência, processo e plataformas teológicas também serve para que o crente saiba defender a sua fé e pregar o Evangelho perante as pessoas, diferenciando o que é essencial e o que não é essencial à salvação, comunhão e demais doutrinas bíblicas.
Por fim, é necessário lembrar que todo esse estudo exposto acima se insere na Teologia Sistemática que é muito importante na capacitação para cumprir a segunda parte da Grande Comissão, a dar prioridade ao essencial, a fechar as brechas entre a fé e a conduta, a derrubar as ideias pessoais erradas, a discernir melhor as novas doutrinas e movimentos e a ter uma postura equilibrada ante as diversas plataformas e epistemologias existentes. Por isso, é necessário estudá-la com a oração, a humildade, a razão, a ajuda dos outros e um espírito de amor para obter sucesso na formulação da única teologia coerente com a Verdade divina.

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