DIREITA OU ESQUERDA: NÃO PODEMOS SER BIPOLARES?
por
João Marcos Bezerra – jmarcoscb@gmail.com
É importante começar este
artigo informando que não trataremos diretamente aqui sobre o “transtorno de
comportamento que é caracterizado pela ocorrência de episódios de euforia e de
depressão, alternados com períodos de normalidade”[1].
Pelo título poderia suspeitar. Por isso, é bom esclarecer logo para não ter
engano mesmo (rsrs). O nosso objetivo será questionar o motivo pelo qual
estamos tão polarizados no campo das ideias que nos obriga a nos posicionarmos
em um polo.
Por que um pastor ou teólogo
tem que ser arminiano ou calvinista? Por que temos que nos posicionar
politicamente como sendo de esquerda ou de direita? Por que se alguém não
concordar com um ou alguns pontos das diversas ondas do movimento feminista é
considerado antifeminista? Só existem dois lados nos campos das ideias? Por que
sempre temos que escolher um desses lados? Não podemos concordar e discordar de
pontos dos diversos lados e formar o próprio pensamento? Estes são alguns dos
questionamentos que nos levaram a escrever este texto.
Na Pérsia antiga existia uma
religião chamada Zoroastrismo. Tem esse nome porque foi fundada por Zoroastro
ou Zaratustra. A data de criação é incerta e existem diversas lendas em torno
desta figura. Avesta é o livro de orações desta religião. Acreditavam que o
mundo era governado por deuses do bem (Ormuz) e do mal (Arimã) que lutavam com
forças iguais. O Mitraismo e o Maniqueísmo derivaram desta fé.[2]
No cristianismo também
encontramos um duelo entre o bem e o mal. Alguns fazem referência disto à
oposição entre Deus e o diabo, mas a melhor representação está em Romanos,
capítulo 7, quando o apóstolo Paulo escreveu que o pecado (mal) luta em nosso
interior contra a lei de Deus (bem). Até porque satanás não tem poder
equivalente e muito menos superior à Yahweh. Então, para a doutrina cristã, não
existe duelo entre deuses ou duas forças governando o mundo. Só há um único
Deus Todo Poderoso.
Esta doutrina de duas forças
divinas duelando é chamada de Dualismo, que tem influenciado a polarização
ideológica até hoje. A “ação de concentrar a atenção ou a atividade em dois
extremos opostos”[3]
tem causado a divisão no campo das ideias. Quem aceita um lado, considera o
outro mal, enquanto o polo aceito é o bem. Ou seja, por exemplo, quem é da
esquerda política considera que quem aderiu à direita escolheu o “lado negro da
força”; ou quem é calvinista pensa que a sua doutrina é do céu, enquanto o arminiano
é seu oponente por estar nas trevas; e assim vai.
Queremos deixar claro que
não estamos desconsiderando a existência de sagrado e profano, certo ou errado,
bem e mal. Existe a diferenciação destes pontos. Como cristãos, devemos ler e
estudar a Bíblia para aprender o que é certo, bom e sagrado e rejeitar o contrário.
Todavia, quando chega ao campo das ideias, defendemos que é necessário ter uma
abertura para considerar os lados positivos e negativos de todos os lados para
construir nossa própria forma de pensar, sem aderir a um lado da moeda, debaixo
dos princípios e valores bíblicos. Existe algo bom e ruim nos dois lados.
Podemos não ser esquerdista,
mas discordar de alguns pontos do neoliberalismo da direita. Na política não
existe somente direita e esquerda. Ou ainda, é possível não aprovar alguns
pontos do movimento feminista e não ser antifeminista. Não é o fato de
discordar da “guerra dos sexos”, que alguns grupos do movimento tentam
promover, que nos faz rejeitar o direito do tratamento igualitário da mulher no
trabalho. É necessário começar a pensar fora dos dois polos para construir
ideias equilibradas e parar de rotular os outros.
Estamos abordando isto por
considerar absurdo rotular alguém contrário a nós somente porque ele pensa
diferente em alguns pontos. Achamos extremamente saudável, por exemplo, ver
calvinistas, arminianos, adventistas e batistas conversando sobre teologia
bíblica de forma amigável, concordando e discordando em diversos pontos sem se
considerarem opositores. Nós mesmos temos amigos calvinistas e arminianos, não
concordamos em tudo com nenhum deles e mantemos a amizade e, melhor ainda, não
recebemos nenhum rótulo teológico. Isto é muito bom porque não reduzimos a
teologia em dois polos.
Sei que alguns poderiam
esperar mais profundidade deste texto. Desculpem-nos por não atendermos as
expectativas. Também estamos cientes de que podem ter algumas pontas soltas
passíveis de refutação. Todavia, o questionamento sobre a polarização está
lançado. Queremos mesmo convocar a todos para a liberdade de pensamento sem a
necessidade de aceitar um polo de forma restrita. Que todos possam concordar e
discordar de cada lado da moeda sem ao menos receber um rótulo de
oposicionista.
Por fim, se somos cristãos,
concentremo-nos em tudo que é verdadeiro, nobre, correto, puro, amável e
decente, “se houver algo de excelente ou digno de louvor” pensemos nisto (Fp
4.8). Ao analisar todas as correntes de pensamento, procure encontrar estes
atributos e seja feliz em ser bipolar, algumas vezes (rsrs). Que Deus nos
abençoe e nos dê sabedoria para pensar com liberdade e fundamento na Palavra
Dele e não em ideologias humanas. Amém!
[1] Bipolar na
psiquiatria. Disponível no site: https://www.significados.com.br/bipolar/.
Acessado em 7/3/2019.
[2] SILVA,
Maurineide A. da. O “eixo do mal” x “o
grande satã”: a construção da doutrina maniqueísta no contexto das relações
Estados Unidos e Oriente Médio. Disponível no site: http://www.abhr.org.br/wp-content/uploads/2013/01/art_SILVA_EUA_oriente_medio.pdf.
Acessado em 25/3/2019.
[3] Polarização política. Disponível no
site: https://www.significados.com.br/polarizacao/.
Acessado em 25/3/2019.
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