O ‘IDE’ NÃO É A MISSÃO
por João Marcos Bezerra – jmarcoscb@gmail.com
Texto base: Lucas 24.44-49
Normalmente, quando estamos em
campanhas missionárias e em congressos, conferências e seminários vocacionais e
de missões, ouvimos mensagens sobre o “Ide de Jesus” baseados em Mateus
28.19,20 (“Portanto, Ide, fazei discípulos…”) ou Marcos 16.15 (“Ide, pregai o
evangelho…”). Apesar da ênfase nestas pregações ser, na grande maioria dos
casos, dada ao Ide, o IDE não é a missão da igreja.
Existem cinco registros de Jesus
determinando qual é a missão da igreja, são eles: os dois textos citados acima,
o texto de Lucas – base desta reflexão, João 20.21 (“Assim como o Pai me
enviou, eu os envio”) e Atos 1.8 (“receberão poder quando o Espírito Santo
descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas…”). As referências de Lucas e
Atos não trazem o verbo Ide. Já João enfatiza que Jesus enviou os seus
discípulos. Além disso, é importante destacar que o Ide não é o verbo principal
e a ênfase dos textos de Mateus e Marcos; sendo assim, também não é a nossa missão.
Quando concentramos a nossa
reflexão no verbo auxiliar Ide, podemos induzir que só cumprimos a nossa missão
ao ir a algum lugar distante de onde estamos para cumprir a nossa missão.
Porém, onde nós estivermos, a nossa tarefa como igreja é:
1)
Fazer discípulo, ensinando o que Jesus mandou e
confirmando a fé do discípulo por meio do batismo (Mt 28.19,20);
2)
Pregar o Evangelho a todas as pessoas, informando
que quem crer e for batizado será salvo e quem não crer está condenado (Mc
16.15,16);
3)
Pregar, no nome de Jesus, o arrependimento para
perdão de pecados (Lc 24.44);
4)
Testemunhar de Cristo por meio do poder do Espírito
Santo em qualquer lugar, a começar onde estamos, representado por Jerusalém,
até ir aos lugares distantes – “confins da terra” (At 1.8).
Percebe que a nossa missão é
maior que o IDE? Com isso, quero detalhar um pouco mais o texto de Lucas
24.44-49.
O Evangelho de Lucas é o terceiro
livro do Novo Testamento e um dos Evangelhos Sinóticos – os três livros que
contêm uma grande quantidade de histórias em comum e praticamente seguem a
mesma sequência de fatos. Porém, neste evangelho estão contidas algumas
histórias exclusivas, como: a circuncisão e um pouco da infância de Jesus
(2.22-52) e o encontro do Senhor, após ressuscitar, com dois discípulos no
caminho de Emaús (24.13-33).
Apesar de não ter referência ao
autor, a tradição determina que a autoria deste Evangelho seja do médico Lucas
(Cl 4.14), que acompanhou o apóstolo Paulo em suas viagens missionárias (Fm
24). O objetivo deste livro é relatar de forma ordenada os fatos mencionados
por testemunhas oculares sobre os feitos e ensinos de Jesus (Lc 1.1-4). Desta
forma, Lucas também é considerado autor de Atos dos Apóstolos, pois este livro
também é direcionado ao mesmo destinatário, Teófilo, e cita “o livro anterior”
(At 1.1-2).
O contexto do capítulo 24 do
Evangelho de Lucas trata sobre a ressurreição de Jesus, o testemunho disto pelas
mulheres aos discípulos, a caminhada de Cristo com Cleopas e outro discípulo no
caminho de Emaús (como já mencionado), a aparição do Senhor na reunião dos
discípulos, as últimas palavras do Mestre e Sua ascensão. E é neste ponto que
baseamos esta reflexão.
Este texto bíblico conta os
últimos momentos de Jesus com seus discípulos. No verso 44 o Mestre destacou
que tudo o que aconteceu com Ele estava escrito na Lei, nos Profetas e nos
Salmos. Houve uma recapitulação e resumo das Escrituras para que os discípulos
recordassem que o ministério de Cristo, do batismo à ressurreição, era o
cumprimento das promessas de Deus. Com isso, as mentes dos que ouviram a Jesus
foram abertas para entender a Palavra (v.45).
Já dos versos 46 a 48, Jesus
destacou que, além do sofrimento e ressurreição dos mortos Dele ao terceiro dia,
está escrito que no nome Dele a mensagem de arrependimento e perdão deve ser
pregada em todo o mundo pelos seus discípulos, a começar, naquele caso, em Jerusalém,
onde podemos entender que trata das nossas casas, bairros e cidades. Nós somos
testemunhas destas coisas, assim como os apóstolos foram, porque somos os
discípulos de Jesus na atualidade. Então, precisamos testemunhar desta mensagem
que transforma onde estivermos, pois é a nossa missão.
Uma coisa bem preocupante em
nossos dias é a nossa preocupação em defender ideologias ou questionar qual é a
postura da igreja na luta pelas minorias, enquanto que o Evangelho de Cristo
fica “no canto”, esperando ser lembrado num momento “oportuno”. Isto porque nós
mesmos esquecemos que a mensagem do Senhor anuncia boas novas aos pobres,
proclama liberdade aos presos, recupera a vista dos cegos, liberta o oprimido e
anuncia o ano da graça de Deus, por meio da unção que Ele nos concede pelo
Espírito Santo (Lc 4.18,19).
O verso 49 fala justamente desta
unção. O versículo traz uma recomendação muito importante: “fiquem na cidade
até serem revestidos do poder do alto”. Jesus completa esta declaração em Atos
1.8: “receberão poder ao descer sobre vocês o Espírito Santo e serão minhas
testemunhas”. Ou seja, os discípulos deveriam esperar o poder, a unção, do
Espírito de Deus para testemunhar da mensagem de arrependimento e perdão de
pecados. Infelizmente, nós atualmente não temos, ou não nos preocupamos ter, o
poder do alto, o Espírito Santo, para testemunhar.
Por isso, terminamos nos
preocupando mais com ideologias e lutas sociais do que com o anuncio do
Evangelho. Precisamos refletir se estamos cumprindo a nossa missão como igreja,
de pregar as Boas Novas de Jesus, de anunciar a mensagem de arrependimento e
perdão de pecados e de fazer discípulos para o Senhor debaixo do poder do
Espírito de Deus, ou se damos mais atenção a ideologias, coisas secundárias e
verbos auxiliares.
O Ide pode não ser a missão, mas
faz parte da nossa tarefa cristã ir aonde Deus enviar, cheios do Seu Espírito, para
pregar o Evangelho de Cristo, anunciar a mensagem de arrependimento e perdão de
pecados, que liberta e transforma, e fazer discípulos. Então, vamos focar na
missão e cumpri-la, a começar aqui, em nome de Jesus. Amém!
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