DISCÍPULO RADICAL
por
João Marcos Bezerra – jmarcoscb@gmail.com
Baseado
no livro ‘O Discípulo Radical’ de John Stott
Os seguidores
de Cristo desde muito tempo atrás são chamados de cristãos. Esta palavra é
oriunda do grego christianos e tem
por definição ‘seguidores de Cristo’. Apesar do seu uso frequente, ela só é citada
apenas 03 vezes na Bíblia, sendo as 02 primeiras delas como forma pejorativa de
se dirigir aos discípulos como miniaturas de Cristo (At 11.26, 26.28). Pedro é
o único apóstolo que usa esse termo e como algo valoroso (“se sofrer como
cristão, não se envergonhe disso” – 1Pe 4.16a). Então, como os apóstolos eram
chamados? De discípulos, que significa aprendiz, pupilo, aluno.
Para entender
o porquê dessa designação, é importante conhecer o processo de discipulado em
Israel na época de Jesus. Existiam pelo menos 02 estágios. O primeiro, Beit Sefer, iniciava-se aos 06 anos
quando a criança aprendia e memorizava toda a Torá (lei judaica, também
conhecida atualmente como Pentateuco) e se estendia até os 10 anos. Aqueles que
se destacavam nesta etapa seguiam para o segundo estágio, Beit Talmud. Enquanto que os demais optavam pela profissão dos
pais. O segundo estágio era onde os alunos aprendiam os demais escritos (livros
históricos, poéticos, profetas e de sabedoria), de forma que aos 12 anos já
haviam memorizado todos eles, e se tornavam seguidores de um rabino que
ensinava aos seus discípulos toda a sua forma de interpretar a lei, andando em
disciplina, ou seja, a partir daí eles eram discípulos de um rabino (KIVITZ).
Neste método
de aprendizado entendemos porque Jesus tinha discípulos – Cristo era
considerado um rabino. Antes de serem chamados de apóstolos, estes foram os
alunos do Mestre. Daí é possível perceber a importância do termo discípulo também
para nós, como cristãos nos dias de hoje, pois estamos em constante aprendizado
com o Mestre Jesus Cristo por meio da Sua Palavra, que é a Bíblia.
É necessário,
além de sermos discípulos, também ter raízes profundas naquilo em que
acreditamos, em nossa fé no Messias, ter um compromisso extremo, porque radical
quer dizer isso. Então, aprenderemos nesta série “Discípulo Radical” sobre
algumas áreas na vida onde devemos ser práticos como aprendizes bem convictos no
Senhor.
INCONFORMISMO
1º
Estudo da Série
Texto
base: Rm 12.1,2; Lv 18.3,4
Quando ouvimos
falar sobre inconformismo o que vem a nossa mente? O que é ser inconformado? Em
Rm 12.2 diz: “Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente” (RA). A NVI traz: “Não se amoldem ao padrão deste
mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente”. Ou seja, ser
inconformado é não se amoldar. Mas, não se amoldar a quê? Ser inconformado com
o quê? Com o sistema que governa o mundo pecaminoso.
Os discípulos
de Jesus devem seguir o exemplo do Mestre e seguir o padrão de Deus para nós. E
onde está este padrão? Na Bíblia! A Revelação do Criador para a humanidade. Ela
apresenta diversas orientações para vivermos da melhor maneira no mundo e de
como seguir a vontade do Senhor. Infelizmente, não damos o real valor e
aplicação da Palavra em nossas vidas. Por isso, amoldamos a nossa vida ao
padrão deste mundo.
John Stott
destaca quatro obstáculos a nossa vida cristã que quero compartilhar aqui com vocês.
A primeira delas é o Pluralismo, que, em linhas gerais, defende que todos os
tipos de crenças são importantes para a humanidade. Este desafio “rejeita as
alegações cristãs de perfeição e singularidade, e entende a tentativa de
converter qualquer pessoa... uma atitude de arrogância total”. Então, esta
tendência afirma que Cristo não é o único caminho a Deus, negando João 14.6.
Então, como
devemos enfrentar o Pluralismo como cristãos? Em 2Timóteo 2.15 diz que devemos
nos apresentar como obreiro aprovado que maneja bem a Palavra da Verdade; e em
1Pedro 3.15 está escrito que temos que está preparado para responder com
mansidão e temor a todo aquele que pedir a razão da nossa esperança. Então,
precisamos ter humildade para ouvir e respeitar as crenças dos outros, mas
também ter convicção daquilo que cremos e nunca abrir mão de dizer que só
existe um único Deus, criador dos céus e da terra; que Seu Filho, Jesus Cristo,
é o único caminho, a verdade e a vida; e que é por meio deste que há salvação.
O segundo desafio
que enfrentamos atualmente é o Materialismo. A sede pelo ter é o que governa a
humanidade hoje. Quem não deseja ou já desejou esbanjar e viver no luxo? Esta é
uma tendência que pode colocar em risco o nosso crescimento espiritual, pois as
coisas materiais podem tomar o lugar do Senhor em nosso coração. Por isso, em
Mateus 6.24 diz que não podemos servir a Deus e as riquezas, devido o poder que
este pode exercer em nós.
O apóstolo
Paulo traz diversas referências para orientar o povo de Deus na vitória sobre o
materialismo. Em Filipenses 4.11 escreve que ele mesmo aprendeu a se contentar
com qualquer situação, seja fartura ou pobreza. Em 1Timóteo 6.6 diz que “grande
fonte de lucro é a piedade com contentamento”. Com isso, é importante lembrar
que devemos ser gratos ao Senhor pelo que temos, confiar Nele para suprir as
nossas necessidades e subordinar tudo o que é material ao serviço no Senhor.
O próximo
desafio é algo diretamente ligado ao Pluralismo. Estou falando do Relativismo
Ético. Todo tipo de padrão ético e moral é relativo, pois está diretamente
relacionado à cultura em que está inserido. No filme “Código Gênesis” a
professora de antropologia, numa conversa com o pastor, defende que tudo é
relativo e que a postura absolutista dos cristãos é arrogante e inaceitável,
mas quando é questionada sobre a circuncisão feminina em algumas tribos, ela se
coloca como uma ativista contrária a esta prática, ou seja, o relativo dá lugar
ao absoluto nesta questão para ela que defende o relativismo. Vejo que esta tendência
causa muita confusão em certos momentos.
Infelizmente,
alguns crentes admitem este Relativismo Ético e querem aceitar relações
extraconjugais, sexo antes do casamento, casamento homossexual e o divórcio. O
verdadeiro discípulo de Jesus deve defender a Bíblia como a Palavra da Verdade,
que liberta (Jo 8.32), que é útil para ensinar, corrigir, instruir em justiça;
“a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente preparado para toda
boa obra” (2Tm 3.16) e para que, por meio desta Palavra, “todo aquele que Nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.15). Assim como também o
discípulo radical deve aplicar os mandamentos bíblicos em sua vida, baseado em
João 14.21: “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me
ama”.
Por fim, o último
desafio em que devemos ser inconformados é no Narcisismo e Hedonismo. O amor
excessivo por si mesmo e a busca desmedida pelo prazer são tendências que
governam a humanidade e tem levado muitos a acreditarem que olhando para dentro
de si a solução para os problemas será encontrada. Infelizmente, isto também
tem levado alguns cristãos a buscarem a Deus somente para alimentar o amor e o
prazer próprio. Esta não é a postura do discípulo radical.
A Palavra de
Deus deixa claro que devemos amar a Deus de todo o coração, alma, entendimento
e forças e também ao próximo como a nós mesmos (Mc 12.30,31); que o amor por si
mesmo é sinal dos últimos dias (2Tm 3.1-5); e que só achará a vida quem perde-la
por amor a Cristo (Mt16.25). Então, o amor e o prazer próprio não encontra base
nos ensinamentos de Cristo porque Ele mesmo se esvaziou da Sua natureza divina
para tomar a forma de homem e nos servir (Fp 2.5-7).
Por fim,
reescrevo o que John Stott escreve na página 20 do livro supracitado:
Em face dessas tendências,
somos chamados a um inconformismo radical, não a um conformismo medíocre. Diante
do desafio do pluralismo, devemos ser uma comunidade de verdade, declarando a
singularidade de Jesus Cristo. Diante do desafio do materialismo, devemos ser
uma comunidade de simplicidade, considerando que somos peregrinos aqui. Diante do
desafio do relativismo, devemos ser uma comunidade de obediência. Diante do
desafio do narcisismo, devemos ser uma comunidade de amor.
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