CAIA FOGO
por João Marcos Bezerra - jmarcoscb@gmail.com
Texto
base: Mateus 3.11,12
Depois de mim
vem alguém mais poderoso do que eu, tanto que não sou digno nem de levar as
suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. (Mateus 3.11)
Sinceramente, quando me
propus a estudar sobre o batismo com fogo não tinha noção da quantidade e
diversidade de estudos sobre o tema. Você encontra o assunto sendo abordado por
reformados, tradicionais, pentecostais e neopentecostais. Cada um analisa de
acordo com a sua doutrina. Porém, é incrível como tem textos bem interessantes
e coerentes com a Bíblia e outros também muito estranhos a ela com coisas que
ela não trata.
O que me levou a buscar o
assunto foram as músicas cristãs que estão surgindo dentro do tema. Não é algo
novo em nosso meio musical, mas depois da chuva, do rio, da arca, do choro etc.
este assunto está voltando à moda em nossos cânticos novamente. Até brinco com
uma música de fogo, dizendo que ela é um perigo porque certa vez no momento que
a cantavam numa vigília de juventude começou um tiroteio em frente a igreja.
Realmente caiu fogo! (hehehe)
Neste breve artigo quero
buscar entender o que a Bíblia realmente fala sobre o batismo com fogo. Não me
aprofundarei muito sobre outro tipo de batismo e nem sobre qual a representação
do fogo na Bíblia. Falarei sobre o batismo com fogo, propriamente dito. Com
isso, começaremos respondendo ao seguinte questionamento: o que falam sobre o
batismo com fogo?
“Alguns sugerem que o fogo
se refere as “línguas, como de fogo” que pousaram sobre os apóstolos em Atos
2.3” (Dennis Allan). Alguns irmãos buscam esse ato da seguinte forma: “meu
desejo é ser batizada com fogo, ou
seja, selada em evidências de novas línguas" (desconhecido). Um teólogo
pentecostal, em seu vídeo no youtube, declarou que o batismo com fogo é o
“batismo com poder ou revestimento de poder” (Leandro Spenst). Com isso,
de forma bem genérica, generalizada, podemos ver que esse batismo é reconhecido
pelos pentecostais como a imersão no poder do Espírito Santo, tendo como
evidência o dom de línguas.
Por
outro lado, no site
da Universal encontrei: “Já o “batismo de fogo” trata-se das provações que
surgem em nossa vida depois que decidimos pela nossa entrega ao Senhor Jesus. É
uma fase muito difícil para o convertido, porque ele deixa uma vida de erros
para abraçar essa fé.”. Esta é a visão dos neopentecostais da Universal que veem
este ato como a imersão nas provações causada pela entrega da vida a Cristo.
Entretanto, surge outro
grupo que declara que o fogo representa destruição, ou seja, significa a
completa morte eterna dos ímpios, interpretando que o batismo com fogo é a
condenação eterna no lago de fogo após o julgamento divino. Mas, qual das três
é a correta? Ou existe outra diferente? Vamos nos deter a analisar alguns
textos bíblicos atribuídos ao assunto para retirar a correta interpretação
sobre o assunto.
Em Atos 1.8 está escrito:
“Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da
terra”. E em Atos 2.3,4 escreve: “E viram o que parecia línguas de fogo, que se
separaram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito os capacitava”. Estes
dois versos são bastante utilizados por pentecostais e carismáticos para
defender que o batismo com fogo é o batismo de poder e também o batismo do
Espírito Santo.
Todavia, no primeiro texto a
palavra grega para poder (dunamis)
pode ser definida como “habilidade, poder para realizar milagres ou poder que
uma pessoa ou coisa mostra e desenvolve” (Bíblia Strong). Dentro do contexto
entendemos que o Espírito Santo capacita o discípulo com a habilidade de
testemunhar de Cristo onde estiver, podendo, não obrigatoriamente, realizar
milagres para isso. Este texto trata sobre poder para ser testemunha.
Já na segunda referência, a
palavra grega (hosei) empregada para
“como” [de fogo] pode ser definida por “como se, aproximadamente, quase”
(Bíblia Strong), declarando que as línguas eram como se fossem de fogo, não que
eram de fato labaredas. Embora a presença de Cristo por meio do Seu Espírito
arda os corações, como expresso em Lucas 24.32, isso não a qualifica como
batismo de poder, dado ao convertido e, muito menos, como batismo com fogo. Vou
explicar melhor!
Em Mateus 3.7-12 está
escrito o sermão de João Batista para os fariseus e saduceus, onde dizia:
Dêem fruto que
mostre arrependimento! (…) O machado já está posto à raiz das árvores, e toda
árvore que não der bom fruto será cortada e lançada ao fogo. Eu os batizo com
água para arrependimento. Mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu,
tanto que não sou digno nem de levar as suas sandálias. Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em
sua mão e limpará sua eira, juntando seu trigo no celeiro, mas queimará a palha
com fogo que nunca se apaga.
Este é o trecho bíblico que
realmente fala sobre batismo com fogo. Segundo MacArthur: “Pelo fato de, nesse
contexto, o fogo ser usado como meio de punição (vs.10,12), isso provavelmente
é uma referência a um batismo de castigo sobre os não arrependidos”. Apesar do
“provavelmente” na frase deste teólogo, não é possível encontrar no texto base
alguma para entender o batismo com fogo como sendo algo bom. Até mesmo porque
João tem o propósito de comparar o seu batismo (nas águas para arrependimento)
com o batismo que Jesus traria: do Espírito Santo para os arrependidos e “com
fogo que nunca se apaga” (que queima a palha) para os ímpios.
Outro fato interessante
sobre esta questão é que na Bíblia o fogo sempre é referência de destruição. Podemos
ver isso: nos holocaustos – sacrifício totalmente queimado (Lv 1); na disputa
do profeta Elias com os 450 profetas de Baal onde o fogo que desceu do céu
consumiu o sacrifício, o altar e toda a água que escorria do altar (1Rs 18); e,
no castigo divino com labareda de fogo contra os “que não conhecem a Deus e dos
que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Ts 1.8,9). Então,
já dá para entender que o batismo com fogo não é tribulação e não tem relação com
o batismo do Espírito Santo.
Embora entendamos que o
batismo com fogo mencionado pelos pentecostais seja uma referência ao
enchimento e manifestação do Espírito na vida do convertido, aprendemos que não
é bíblica esta interpretação e não é possível considerar o batismo com fogo
como algo bom e desejoso de busca. Porém, devemos agir com respeito a esta
doutrina carismática pelo significado da sua essência e não pela sua
literalidade, pois, a partir de agora, sabemos que o batismo com fogo é dada
por Jesus àqueles que não O aceitam como Senhor e salvador para destruição
eterna. Acho que nenhum crente quer isso! Deus abençoe geral!
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