JEFTÉ E VOCÊ, TUDO A VER?
Por João Marcos Bezerra
Textos Base: Jz 11.1 -12.7
Quando Jefté chegou a sua casa, eufórico com a
vitória sobre os amonitas, deparou-se com sua única filha dançando de alegria
ao som de tamborins. Em vez de continuar a festejar, ele chorou
desconsoladamente e lamentou o que fizera e o que teria que fazer…
Jefté era hebreu, da tribo de Manassés, mais
precisamente do clã de Gileade, neto de Manassés. Ele era filho bastardo de um
homem também chamado Gileade, que não era o fundador do clã e sofreu muito
preconceito dos seus irmãos por parte de pai ao ponto de ser expulso de casa
por estes. Ao fugir daquela localidade ele foi morar em Tobe, onde formou um
bando de marginais e teve a sua fama reconhecida em toda aquela região até
chegar a Gileade.
Alguns anos depois, o reino dos amorreus entrou em
conflito com Israel. A cidade de origem do guerreiro era o palco principal da
batalha. Isto fez com que os líderes da cidade procurassem Jefté para ajudá-los
a se livrar dos inimigos. O que deixou este líder bem cismado. Ele fora expulso
da sua casa. Agora os mesmos que o havia colocado para fora o queriam de volta
para liderá-los numa batalha. “Nada como um dia atrás do outro”.
Jefté também não deixou “barato”! Jogou logo na cara
dos gileaditas tudo o que sentia e fez com que eles se humilhassem e apelassem
pelo seu apoio. E ainda por cima, estes prometeram que o colocariam como chefe
do clã caso contassem com sua ajuda. Após as exigências necessárias, o agora
juiz e os líderes de Gileade foram para Mispá, santuário local, fechar o acordo
diante de Deus.
Já empossado Jefté ficou a par da situação e enviou
mensageiros ao rei amonita para saber qual o motivo da guerra. A resposta
recebida foi: “Quando Israel veio do Egito tomou as minhas terras, desde o
Arnom até o Jaboque e até o Jordão. Agora, devolvam-me essas terras
pacificamente” (NVI). Esta região havia sido conquistada pelos israelitas
durante a peregrinação Egito – terra prometida. Tudo isso porque nem o reino de
Edom e nem o de Moabe aceitaram que os hebreus atravessassem seu território
para chegar a Canaã. Quando eles foram para a fronteira de Amom e pediram
autorização para a travessia no território deste, receberam um exército como
resposta. Esta “acolhida” custou caro, pois levou a um confronto entre as duas
nações, sendo Israel a vencedora. O que aconteceu de imediato foi a conquista
de todo o território reivindicado neste novo momento, do Arnom ao Jaboque e até
o Jordão.
Esta breve explicação dada foi a mesma enviada ao
rei amonita por meio de um novo mensageiro. Mas vocês adivinham qual foi a
resposta? Gueeeerraaaa!!! Ô povo bruto, meu irmão! Num gosta muito de papo não,
parte logo para a violência. Neste momento Deus não deixou o povo sozinho, o
Espírito do Senhor desceu sobre o juiz.
Tinha tudo para dar. E deu! Israel venceu a batalhe
e vinte novas cidades foram conquistadas para o território hebreu. Entretanto,
o gran-líder israelita fez um voto ao Senhor: “se entregares os amonitas em
minhas mãos, aquele que estiver saindo da porta da minha casa ao meu encontro,
quando eu retornar da vitória sobre os amonitas, será do Senhor, e eu o
oferecerei em holocausto”¹. E quem saiu ao encontro do Jefté quando ele chegou
em casa depois da vitória? Sua filha única!
Com muita alegria, celebrando o vencedor, ao som de
pandeiros, como era costume naquela cultura, ela inocentemente saiu ao encontro
do pai rumo à própria morte. Para o povo hebreu não ter filhos, descendentes,
era uma maldição terrível, e esta recaiu sobre este líder. Por isso, a angústia
de Jefté foi tão desesperadora. Sua filha ainda teve dois meses para vagar
chorando com suas amigas, mas depois se consumou o voto. A partir disso,
criou-se um costume em Israel onde anualmente as moças vagam por quatro dias
celebrando a memória desta filha.
Isso tem cara de final de história, mas a trajetória
deste homem num acabou aí não. Após este sacrifício, os homens de Efraim foram
convocados para a batalha, rumando ao encontro de Jefté. Opa! Mas qual o
motivo? A guerra contra os amonitas já não havia acabado? Por que eles se
juntaram neste momento? É simples. Efraim era uma das principais tribos de
Israel e a mais forte naquele momento. Eles se sentiram traídos por terem sidos
deixados de fora da batalha. Então, vieram dispostos a queimar a casa de Jefté
com ele e a família dentro por tão grande descaso. Isso deixou o gileadita
pasmado, pois antes da batalha ele havia convocado as tribos de Efraim e Manassés,
mas não recebeu resposta.
Então, em resposta a afronta dos efraimitas neste
momento os homens de Gileade lutaram contra os de Efraim e tomaram a passagem
do Jordão que dava acesso ao território desta tribo. Lá eles fizeram um tipo de
pedágio para matar todos os efraimitas que passassem por ali. Neste ponto as
pessoas tinham que dizer a palavra “chibolete”, que significa espiga de cereal,
como uma espécie de senha. Caso houvesse erro na pronuncia, a morte era certa.
Como o povo de Efraim desenvolveu um dialeto
próprio, eles não conseguiam pronunciar corretamente algumas palavras no idioma
hebraico, entre essas estava nada menos que: chibolete, que era pronunciado
como “sibolete” por estes. Contando todos os que erraram a senha, foram mortos em
torno de quarenta e dois efraimitas. O que inviabilizou a permanência desta
tribo como principal entre as doze.
Com a vitória sobre os amonitas e a chacina de
Efraim, Jefté julgou Israel por seis anos e após a sua morte foi sepultado em
sua região natal. No período do seu mandato a tribo de Manassés, principalmente
a região de Gileade, tornou-se o principal clã de Israel, ocupando uma posição
de destaque diante das demais e tornou o nome de Jefté conhecido até a
atualidade.
ELE
E VOCÊ TÊM TUDO A VER?
Com essa trajetória inusitada de Jefté, você se
identifica com ele em alguma de suas características? Você e Jefté têm tudo a
ver ou não? Depois de revisar a vida deste personagem bíblico, vamos às lições:
1. A sua origem não determina o seu
caráter e nem o seu futuro
Jefté era filho bastardo de Gileade com uma
prostituta e foi expulso de casa pelos seus irmãos, que não queriam dividir a
herança com um filho ilegítimo (Jz 11.1-3). Logo após sua ida para Tobe ele
liderou um grupo de vadios, ou seja, pessoas marginalizadas e levianas (Jz
11.4). Ele tinha tudo para ser uma pessoa rancorosa, mau caráter, vingativa,
com um futuro nada promissor. Talvez ele se tornasse uma espécie de “Lampião”
hebreu, roubando e matando nas cidades por onde passava. Pode até ser que tenha
se tornado um justiceiro, mas não há relatos disso. Entretanto, era
reconhecidamente um guerreiro capaz de liderar um exército e libertar Israel.
Fato este comprovado quando os anciãos de Gileade apelaram pelo seu apoio (Jz
11.5-9).
Isto é o que quero trazer a reflexão. Apesar da
origem de Jefté e as besteiras que ele fez, o seu futuro foi governar uma nação
por seis anos e mantê-la livre dos inimigos durante este período. O fim deste
juiz não foi decadente e seu caráter não pendeu para o mal. E isto mostra que para
onde você vai caminhar e quem você será não depende de onde você saiu, mas sim
da sua caminhada durante a vida.
Muitas pessoas de origem difícil, crescendo no meio
de traficantes, em bairros marginalizados e em famílias desajustadas, conseguem
alcançar o sucesso na vida. Por que você também não pode alcançar?! Tudo
depende de onde você põe o seu foco, o seu propósito de vida. Por isso,
recomendo que você coloque o seu foco e propósito em Deus. Em Pv 3.6 há uma
verdade sobre isso: “Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apóie em
seu próprio entendimento; reconheça o Senhor em todos os seus caminhos, e ele
endireitará as suas veredas [direção].”¹
2. Um voto mal feito prejudicará um
inocente
Neste momento Jefté fez a maior besteira da sua
vida: prometeu em sacrifício totalmente queimado, isto é, em holocausto, a
primeira pessoa que saísse ao seu encontro quando chegasse em casa após a
vitória sobre os amonitas (Jz 11.30,31). Sua única filha foi a vítima e este
juiz não teve descendência. Uma grande maldição entre os judeus.
Você costuma fazer votos? Normalmente jura por quem
ou pelo quê? O fato de jurar precipitadamente levou Jefté a pagar um alto
preço. Também é fato que se você o fizer também poderá pagar. Este personagem
fez um voto comprometendo alguém que não o pertencia, apesar de ser sua filha. É
verdade de que o contexto dá a entender que a filha de Jefté não foi
sacrificada no fogo, e sim foi dada como sacrifício vivo, dedicada como virgem
ao serviço do Senhor. Mesmo assim, este juiz não podia fazer um voto para outro
cumprir.
O mestre Jesus Cristo ensinou:
Não jurem de jeito
nenhum. Não jurem pelo céu, pois é o trono de Deus; nem pela terra, pois é o
estrado onde Ele descansa os Seus pés; nem por Jerusalém, pois é a cidade do
grande Rei. Não jurem nem mesmo pela sua cabeça, pois vocês não podem fazer com
que um só fio dos seus cabelos fique branco ou preto. Que o ‘sim’ de vocês seja
sim, e o ‘não’, não, pois qualquer coisa a mais que disserem vem do Maligno.
(Mt 5.34-37 NTLH)
Então, não jure e não faça voto ao Senhor, nem de
caso pensado e analisado e muito menos precipitadamente. Nada pertence a você
para que você o ofereça como parte no acordo. Além disso, Deus não precisa de
voto para fazer algo por você. Ele é soberano e derrama a sua benção a quem Ele
quer. Desta forma, ninguém terá que pagar pelo que você jurou, nem você mesmo.
3. Segure na mão de Deus e enfrente
a batalha
Apesar do voto desnecessário que Jefté fez com Deus,
é notório que ele buscou o Senhor para que estivesse presente na guerra contra
os amonitas e levasse a vitória à Israel (Jz 11.29,30). E é desta forma que
você deve proceder no seu dia-a-dia: busque a presença do Todo Poderoso para
que a vitória seja certa. “Confia ao Senhor as tuas obras, e os teus desígnios
serão estabelecidos” (Pv 16.3).
Diante das várias batalhas na vida, Deus tornará
você um mais que vencedor (Rm 8.37). Além disso, em meio as tribulações vem o
desafio: alegrar-se (Tg 1.2) porque a “prova da sua fé produz perseverança” e
“aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mt 24.13).
Com isso destaco na vida de Jefté, que, independente
de onde você nasceu ou foi criado, as suas escolhas é que farão diferença no
seu futuro e escolher andar com Deus é a melhor opção, pois enfrentar qualquer
batalha confiando no Senhor tornará você um vencedor. Além disso, também
aprendemos que não há necessidade de se fazer votos ao Senhor para conseguir o
seu auxílio ou resposta favorável.
Desta forma, aprendemos, com os erros e acertos
deste juiz israelita, mais lições para nos mantermos no Caminho Eterno. Deus
abençoe geral!
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