EVANGELHO DE MARCOS
Por: João Marcos Bezerra
O
Evangelho Segundo Marcos é o segundo dos quatro evangelhos, de acordo com o
cânon, e o menor deles em número de capítulos e registros históricos. Os pais
da igreja são unânimes quanto a autoria de João Marcos, primo de Barnabé (Cl
4.10), filho de Maria – mulher que recebeu Pedro quando este foi liberto da
prisão em Jerusalém (At 12.12), discípulo do apóstolo Pedro (I Pe 5.13) e
companheiro de Paulo e Barnabé em parte da primeira viagem missionária destes
(At 13.5,13). Além disso, alguns acreditam que o autor foi aquele jovem desnudo
e envolto em lençóis que seguia Jesus quando este foi preso, mas não há nenhuma
evidência que comprove esta teoria.
Os
eruditos instruem que este livro foi escrito com base no testemunho de Pedro. É
possível perceber uma similaridade no discurso deste em Atos 10.36-43 e os
acontecimentos narrados neste Evangelho; além de ver o reflexo da personalidade
do Apóstolo em quase todas as páginas. Com isso, é possível entender o quanto
um escritor que não foi discípulo de Cristo pôde narrar os fatos com tanta
precisão de detalhes, inclusive as advertências do Mestre aos discípulos (vs.
4.13, 8.17).
Antes
dos pais da igreja, Papias, discípulo do apóstolo João, escreveu:
O
ancião disse também isto: Marcos, vindo a ser o intérprete de Pedro, escreveu
acuradamente tudo de que se lembrava, – não, entretanto, em ordem, – as
palavras e os feitos de Cristo. Porque ele nem ouvira ao Senhor, nem foi um dos
que O seguiam, porém, depois, como eu disse, juntou-se a Pedro, e quis adaptar
sua instrução às necessidades da ocasião, porém não ensinar, como se estivesse
compondo um relato seguido por ordem natural dos oráculos do Senhor; de modo que
Marcos não cometeu nenhum engano em assim descrever alguns fatos conforme a
lembrança que deles tinha. Porque um objetivo ele teve em mente – nada omitir
do que ouvira, e nem declarar inverdades. (citação no Manual Bíblico de HALLEY)
Como
o Evangelho é um testemunho do que o apóstolo Pedro vivenciou com Cristo, o
autor João Marcos descreve de forma tão precisa os fatos. É como se fosse
alguém que vivenciou os acontecimentos e os conta em primeira mão. Tal precisão
se expõe na apresentação dramática e na franqueza ao descrever as pessoas.
Os
destinatários desta carta foram os gentios romanos. Daí a omissão da genealogia
e do Sermão do Monte, que trata da lei judaica, e de inúmeras parábolas; a
explicação dos costumes dos judeus aos seus leitores, como nos versos 7.3-4,
15.42; e, a tradução das expressões em aramaico contidas no texto, como: Boanerges (v. 3.17), Talita cumi (v. 5.41), Corbã (v. 7.11), Efatá (v. 7.34) e Gólgota (v.
15.22). A forma de escrita clara e objetiva, o foco histórico nas ações de Jesus,
contendo na terça parte do livro os acontecimentos das últimas três semanas de
vida do Mestre, também são evidências do propósito evangelístico gentílico.
Além
desse propósito, pode-se também dizer que o objetivo também era:
·
Apresentar Jesus como o Servo do
Senhor, o Obreiro, que veio “para servir, e para dar sua vida em resgate de
muitos” (v. 10.45);
·
Mostrar que Jesus como o Messias
era inocente das acusações dos judeus e que Seus sofrimentos eram parte do
propósito de Deus;
·
Explicar por que Jesus não se
declarou publicamente que era o Messias;
·
Explicar por que os cristãos têm
que sofrer – porque Jesus sofreu;
·
Apresentar as obras de Jesus como
um triunfo sobre as obras do diabo. (Material de Estudos do SETEB)
A
datação desta carta está entre os anos 65-70 d.C.. Considera-se que “Marcos
provavelmente escreveu o Evangelho após a morte de Pedro”, pois o autor de
forma franca descreve as falhas do apóstolo, o que poderia ser considerado
malicioso se este ainda fosse vivo – sua morte ocorreu na perseguição de Nero
em 64d.C.. Como não há menção da queda de Jerusalém se supõe que a composição
ocorreu antes de 70d.C..
Muitos
estudiosos consideram este livro como sendo o primeiro Evangelho escrito e
argumentos para isso são que: noventa por cento do conteúdo deste aparece em
Mateus e cinqüenta por cento em Lucas; mais de cinqüenta por cento das próprias
palavras de Marcos aparecem nos Evangelhos Sinóticos onde o mesmo material é
encontrado; a ordem de construção do material em comum está em concordância nos
Sinóticos; as questões consideradas ofensivas ou perplexas em Marcos são
omitidas ou suavizadas em Lucas e Mateus (Material de Estudo do SETEB).
De
acordo a análise de Russell Shedd sobre este evangelho, ele tem como
característica principal a Rapidez de Ação, onde “as narrativas passam
rapidamente de um acontecimento para outro”, sendo este livro considerado o
filme do ministério de Jesus; como característica notável a Vivacidade de
Detalhes, “embora seja o mais breve há detalhes vívidos que não podem ser encontrados
nos relatos dos outros Sinóticos sobre os mesmos acontecimentos”; como
característica proeminente a Descrição Pitoresca, encontrado no relato sobre a
primeira distribuição de pão, onde “ele diz que o povo se assentou em ‘grupos’
na relva verde”, refletindo a paisagem do local e do grupo.
Além
dessas particularidades Shedd também faz a seguinte análise:
Em
Marcos, Jesus é apresentado como o grande Conquistador – da tempestade, dos
demônios, das enfermidades e da morte. Ele é o Servo do Senhor (cf Isaías):
primeiramente o Servo conquistador, e em seguida o Servo sofredor, e,
finalmente, o Servo triunfante, por ocasião da Sua ressurreição… A divindade de
Jesus é enfatizada, quer explícita quer implicitamente. Ele é o Filho do Homem,
o Messias, Aquele por Quem os séculos haviam esperado.
Diante
da objetividade, clareza e detalhamento histórico e cultural judaico, é
possível entender porque tantos professores e evangelistas indicam aos leitores
de “primeira viagem” da Bíblia o início da leitura pelo Evangelho Segundo
Marcos.
É
neste livro que se compreende de forma distintiva a pessoa de Cristo e Sua
missão a partir das ações servis e, simultaneamente, a cultura na qual o Mestre
estava inserido. E a partir do conhecimento prévio necessário, pode-se explorar
e compreender os ensinamentos contidos nos demais Evangelhos e o ensino
doutrinário nas Epístolas, abrindo os horizontes para a construção e aplicação
dos princípios bíblicos para uma vida santa diante de Deus.
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